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Brasil é destaque na América Latina para o BIS, mas banco vê pedras no caminha da economia global — e Trump é uma delas

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O Brasil está na contramão da América Latina, segundo o Banco de Compensações Internacionais (BIS) — e isso é um bom sinal. Segundo relatório divulgado pela instituição neste domingo, o país apresenta uma forte demanda interna, enquanto a América Latina registra um desempenho econômico moderado neste ano.

Para o “banco central dos bancos centrais”, a boa atividade econômica no Brasil “foi sustentada por um mercado de trabalho apertado e transferências fiscais”.

Apesar do cenário positivo para a atividade econômica, o BIS também fez um alerta para o país. Em documento, a instituição indicou que o progresso da inflação brasileira vai na contramão do resto do mundo.

Isso porque, enquanto a inflação nas demais economias mundiais continuou reduzindo, rumo às metas dos bancos centrais, esse processo desacelerou no país e em outras regiões da América Latina, indica. Além do Brasil, o Chile e a Colômbia também são alguns dos exemplos.

Segundo o BIS, os fatores que impactam os níveis de preços praticados nas regiões são internos, como forte demanda privada, ajustes em preços regulados e desvalorização das moedas domésticas.

“O Banco Central do Brasil aumentou rapidamente as taxas de juros em resposta à evidência de que as expectativas de inflação estavam se desancorando”, afirma o BIS, em relatório anual.

Vale lembrar que, há mais de uma semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) aprovou novo aumento de 0,25 ponto porcentual para a taxa básica de juros, que passou de 14,75% para 15% ao ano. 

O mercado espera que esse patamar seja mantido até dezembro, com o primeiro corte na Selic vindo apenas em janeiro de 2026, conforme o boletim Focus.

O impacto de Trump na economia global

O relatório anual do BIS também mostrou que o cenário internacional também vem pesando na conta, em especial a política tarifária de Donald Trump

Segundo o banco, as taxas do presidente dos dos Estados Unidos tornam o processo de desinflação mais difícil em alguns países, prejudicando o alcance das metas dos bancos centrais.

Isso porque a nova política comercial norte-americana elevou os indicadores de incerteza a níveis tipicamente associados a crises e tornou o horizonte da economia global “imprevisível”, avalia o BIS.

Até o ano passado, o otimismo em torno de uma aterrissagem suave da economia global era iminente, na visão do banco. Porém, com as tarifas de Trump, as expectativas positivas foram colocadas em xeque.

“As interrupções comerciais agora ameaçam remodelar o cenário econômico global, à medida que relações políticas e econômicas de longa data estão sendo questionadas”.

O outro lado da moeda

Não é só o “banco central dos bancos centrais” que enxerga impactos negativos do tarifaço. 

Desde o anúncio das taxas recíprocas de Trump, em abril, o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) cortaram suas projeções para o crescimento da economia global neste ano. 

Além disso, há “implicações mistas” para a inflação em todas as economias, alerta o BIS.

“Era para termos uma aterrissagem suave. Tudo estava indo conforme o planejado. Então, tivemos esse período muito substancial de volatilidade, com a ameaça de que as tarifas poderiam dificultar a convergência da inflação para a meta de 2% ao ano em alguns países”, disse o gerente-geral do BIS, Agustín Carstens, ao comentar o relatório anual da organização, em coletiva de imprensa.

Por outro lado, tarifas e outros fatores podem causar um impacto no crescimento econômico, e reduzir a pressão inflacionária, ponderou. 

“Em algumas regiões, essa situação pode aliviar a pressão sobre a inflação. No entanto, em outras, como nos Estados Unidos, o banco central pode enfrentar um cenário muito desafiador”, alertou o gerente-geral do BIS.

Mais um risco na visão do BIS: o vínculo estreito

Outro alerta do BIS é em relação ao vínculo mais estreito dos mercados financeiros globais

“Isso significa que as condições financeiras são transmitidas de forma mais poderosa entre as economias e em múltiplas direções. Não é uma via de mão única”, disse o assessor econômico do banco.

O relatório anual do BIS indica que a política monetária ainda impacta no direcionamento das condições financeiras domésticas. Porém, para a instituição, os bancos centrais devem estar atentos às influências globais e seus efeitos, antecipando o impacto das decisões de juros de outras jurisdições.

“A sensibilidade aumentada aos fatores de risco globais exige uma compreensão mais profunda dos desafios transfronteiriços inerentes a um sistema financeiro mais baseado no mercado”, concluiu o assessor econômico e chefe do Departamento Monetário e Econômico do BIS, Hyun Song Shin, em conversa com jornalistas.

BIS sem desespero na questão fiscal

Apesar dos riscos no radar, o banco central dos bancos centrais não vê uma “crise iminente” na questão fiscal. Ainda assim, avalia que a direção atual não é a correta, com a proporção da dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) em muitos países aumentando rapidamente nas últimas décadas. 

“Um ajuste é crucial e deve começar o quanto antes”, alertou Carstens. 

Segundo o gerente-geral do BIS, quanto mais cedo os países adotarem ajustes fiscais e restabelecerem seus colchões de proteção, menores são as chances de que isso tenha consequências negativas para o restante da economia. 

Além disso, ele acrescentou que não é possível saber quando será necessário implementar novamente uma política fiscal agressiva para estabilizar a economia, como ocorreu com a covid-19.

*Com informações do Estadão Conteúdo.

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