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O primeiro semestre de 2025 serviu como um poderoso lembrete para investidores e gestores: o pessimismo extremo com o Brasil, predominante na virada do ano, mostrou-se exagerado.
Ativos como bolsa, juros e câmbio registraram uma forte recuperação — o Ibovespa registrou alta de 15%, enquanto o real valorizou 12% —, indicando que o mercado esperou pelo pior, mas a realidade foi bem diferente.
Lucas Tambellini, gestor de renda variável da Lifetime, afirma que este é um momento propício para reavaliar as carteiras de investimento e aproveitar as oportunidades fora do radar.
“Quem fizer um mix bem feito vai chegar lá na frente e olhar para uma carteira em um horizonte de dois, três anos, que continuou rodando acima de 1% ao mês, com esse mix de produtos, além da Selic”, afirmou Tambellini durante o evento Onde Investir no Segundo Semestre, promovido pelo Seu Dinheiro em parceria com o Money Times.
E acrescentou: “Quem esperar a Selic cair, e isso vai acontecer, vai pagar 40%, 50% mais caro, com certeza.”
O gestor afirma que entende a dificuldade de olhar para uma estratégia mais expansiva neste momento, quando “é gostoso esperar e não fazer nada com a Selic em 15%”, mas que é importante olhar para esse horizonte mais distante e não perder a oportunidade de valorização futura que se apresenta agora.
Esta matéria faz parte de uma série especial do Seu Dinheiro sobre onde investir no segundo semestre de 2025. Eis a lista completa:
Por que ações é uma oportunidade única neste momento?
O grande destaque para o segundo semestre, na opinião de Tambellini, é a bolsa brasileira, que o gestor descreve como “muito, muito amassada” e barata. Segundo ele, o índice de ações brasileiras negocia a oito vezes seu preço sobre lucro (P/L), contra uma média histórica de 11 vezes.
Diante destes números, o Ibovespa apresenta um potencial de alta superior a 30% para atingir sua média, e 60% para voltar aos patamares de 2016 a 2020, quando negociava na faixa dos 13 a 14 vezes o P/L.
Tambellini destaca que a alocação de brasileiros na bolsa local, por meio de fundos de ações, é a menor dos últimos 25 anos, enquanto os investidores estrangeiros já estão se posicionando como grandes compradores de ativos de risco no país, com saldo positivo acima de R$ 28 bilhões neste ano.
O Brasil desponta como um “ativo de valor” frente a outros países emergentes e em meio a rotação global de capital, com a saída de recursos dos EUA.
Bancos estrangeiros como Goldman Sachs, JPMorgan, UBS e Morgan Stanley têm destacado as ações brasileiras como oportunidade de compra.
Rebalanceamento e estratégias de diversificação
A diversificação é fundamental a hora de considerar onde investir, segundo Tambellini. O gestor enfatiza que é preciso sair da “zona de conforto” da Selic alta para rebalancear a carteira gradualmente.
Para quem é novo em ações, ele indica estratégias como fundos de ações long biased ou uma carteira de dividendos como ponto de partida.
Os fundos long biased têm uma estrutura de proteção da carteira que diminui a volatilidade natural das negociações de ações. Em mercados em alta, a valorização fica mais limitada, mas em mercados em baixa, a queda também é menor.
No caso da carteira de dividendos, o gestor sinaliza que a possibilidade de rentabilidade recorrente é interessante para o investidor iniciante de ações, além de ser um ativo mais defensivo, a depender da escolha das ações.
Tambellini aconselha a pensar em uma estratégia sobre onde investir em ações antes de executá-la, para evitar decisões equivocadas — como uma venda intempestiva — em momentos de volatilidade. Segundo ele, o reajuste deve ser feito aos poucos, começando pela “aceitação” de uma carteira que não seja 100% atrelada à Selic.
“[Primeiro] tem que sair do não, porque o cenário realmente muda. A bolsa subiu em um semestre o que a Selic vai subir o ano todo. Então, precisa fazer essa diversificação”, diz o gestor.
Onde investir: qual a alocação recomendada?
Embora Tambellini defenda a posição em ações brasileiras, a alocação que o gestor recomenda para os ativos é na faixa dos 7,5%, como uma diversificação na carteira.
A parcela predominante, para um perfil moderado, ainda deve ser em renda fixa.
O gestor explica que a Lifetime trabalha com cinco perfis de investimento: ultraconservador, conservador, moderado, agressivo e ultra-agressivo. O moderado é usado como referência, por ser a maior parte dos clientes e por permitir ajustes com mais ou menos risco.
Para este perfil moderado, a indicação de alocação é a seguinte:
- Renda fixa: entre 70% a 80% da carteira, diversificando entre títulos pós-fixados, atrelados à inflação e pré-fixados;
- Multimercado e ações: cerca de 7,5% a 10%, para diversificação; e
- Internacional: 20% a 30%, considerando uma posição de mais risco que pode ser atribuída à parcela de renda variável.
Sobre onde investir na renda fixa, a recomendação do gestor é dividir esses 70% entre as diferentes opções de rentabilidade.
A primeira parcela deve ser dedicada a um investimento com liquidez diária, cerca de 10%, para ter recursos em um momento de oportunidade que valha para uma operação tática, como um investimento oportuno em outra classe de ativo, câmbio ou renda variável, por exemplo.
Cerca de 30% deve ser alocado em títulos atrelados à inflação (IPCA+). Segundo Tambellini, um juro real de um título de inflação acima de 6% é “sempre um bom dinheiro”.
Algo entre 12,5% e 15% pode ficar em títulos prefixados, para travar uma rentabilidade alta de 15%, e o restante deve ir para os pós-fixados.
Na parte de renda variável, o gestor fala que aumentou a parcela de bolsa recentemente, e indica fundo de ações e multimercados por acreditar que esses ativos estão com uma posição muito tímida. Nos últimos anos, essa indústria sofreu com resgates massivos de investidores.
Tambellini reforça a ideia de alocação aos poucos e provoca: “[O investidor] perdeu um semestre já. É hora de repensar: ‘será que eu vou perder o segundo também’?”, em referência à alta de 15% do Ibovespa entre janeiro e junho.
Por fim, a alocação internacional o gestor considera essencial. Para ele, quem não tem Estados Unidos na carteira “tem que ter”. A posição de 20% a 30% que ele indica é a posição da casa, da Lifetime. Entretanto, ele pondera que cada investidor deve pensar na sua tolerância.
O que não pode, é ficar sem nenhuma alocação em moeda forte.
“A sensação que eu tenho é que o mercado americano, S&P 500, títulos, de um modo geral, é um diamante, e diamante não trinca. Você sempre tem que ter”, afirma.
Uma última indicação do gestor da Lifetime, para o investidor que tem mais apetite a risco, é alocação em investimentos alternativos: SAF de time, empreendimentos imobiliários (shopping, lajes) e empresas não listadas. Ele vê o potencial de retorno desses investimentos como muito atrativo, na casa dos 25% a 35% por empreendimento.
Entretanto, não é uma alocação para se fazer sozinho. É necessário ter assessoria especializada e tolerância a risco.
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