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Nos corredores da Faria Lima, o papo entre investidores tem sido o mesmo há meses: a bolsa brasileira está barata. O Ibovespa se encontra abaixo dos patamares históricos, mas será que isso realmente faz com que a bolsa seja uma grande oportunidade agora? Para Matheus Tarzia, sócio e gestor de ações da Neo Investimentos, a resposta não é tão simples.
Há meses, o Ibovespa tem negociado com múltiplos baixos — a relação preço/lucro (P/L) atualmente gira em torno de 8 a 9 vezes, enquanto a média histórica é de 12 vezes.
Esse cenário torna a bolsa brasileira aparentemente atraente para quem acredita que os preços estão muito abaixo do seu valor justo.
No entanto, o gestor — que administra hoje mais de R$ 4 bilhões em ativos — avalia que essa visão não é suficiente para garantir que a bolsa está, de fato, barata.
“O múltiplo está baixo em termos absolutos, mas ele não está barato. Porque o múltiplo reflete a situação atual do país, com custo de capital altíssimo no Brasil e grau elevado de incerteza. Na verdade, esse é um valor mais ou menos justo para a bolsa brasileira”, disse, em entrevista ao Seu Dinheiro.
Por que a bolsa brasileira não está barata?
Embora o valuation da bolsa brasileira esteja abaixo da média histórica, o gestor enfatiza que “há uma razão para estar assim”: a combinação de juros elevados e um cenário de incerteza política e econômica.
DIA DA LIBERTAÇÃO RELOADED
“Eu vejo que está todo mundo comprado em bolsa, mas ninguém está tão otimista assim — e nem dá para ficar, quando você analisa o que está acontecendo dentro e fora do Brasil”, disse o gestor.
Internamente, a situação fiscal é uma grande preocupação, com debates em torno da isenção de imposto de renda e a dificuldade de cumprir as metas de déficit primário em 2026.
Fora isso, a proximidade das eleições de 2026 traz volatilidade adicional, com o mercado reagindo às pesquisas de intenção de voto e à incerteza sobre as futuras políticas econômicas.
Além dos desafios internos, Tarzia observa que o cenário global também está longe de ser um mar de rosas.
A saída de capital dos Estados Unidos — que beneficiou o Brasil nos primeiros meses do ano — é um reflexo de um cenário mais instável.
“Esse aumento de incerteza foi um trigger importante para a saída de fluxo de dinheiro dos EUA. As dúvidas sobre como o cenário tarifário se desenvolverá continuam pesando no cenário global”, disse.
O que esperar da bolsa brasileira em 2025?
No curto prazo, Tarzia afirma que o mercado vai continuar volátil, passando por uma “fase de acomodação” até o final de 2025.
Ele projeta uma valorização tímida da bolsa, sem grandes surpresas, mas acredita que o cenário global e local vão continuar desafiando os investidores a cada passo.
No médio e longo prazo, o gestor da Neo vê uma oportunidade de reprecificação na bolsa brasileira. Ele acredita que há três possíveis catalisadores para esse movimento.
1 – Selic em queda melhora o apetite por risco
O primeiro é o fim do ciclo de alta de juros, o que poderia resultar em uma mudança nos fluxos de capital, com os investidores migrando da renda fixa para ações.
A previsão da Neo Investimentos é que a Selic se mantenha em 15% ao ano até o final de 2025, com quatro cortes de 0,25 ponto percentual ao longo do segundo semestre de 2026.
2 – Otimismo com eleições começa a fazer preço na bolsa brasileira
O segundo fator relevante citado pelo gestor é a potencial mudança de governo no Brasil, que deve começar a fazer preço nas ações nos próximos meses.
No entanto, a valorização mais expressiva da bolsa brasileira, segundo Tarzia, só deve ocorrer em 2026, quando os cortes de juros se tornarem mais concretos.
3 – Realocação de investimentos estrangeiros para mercados emergentes
Outro vetor positivo para as ações locais é a continuação da vinda de dinheiro estrangeiro para o Brasil (e outros mercados emergentes).
O gestor acredita que o que saiu dos EUA “ainda é muito pouco”, visto que boa parte dos investidores estavam “sobrecomprados” no mercado americano.
Para Tarzia, a bolsa brasileira se beneficiará dessa realocação, considerando seu pequeno tamanho no mercado global, com menos de 0,7% do valor de mercado global, enquanto os EUA representam cerca de 70%.
“Os investidores estrangeiros, com uma estratégia de longo prazo, veem o mercado de forma diferente. Eles conseguem olhar além e esperar que as coisas voltem ao normal, que os juros caiam e a inflação se estabilize. Isso levará a um custo de capital mais baixo e ao retorno dos múltiplos aos níveis históricos”, acrescentou Tarzia.
A carteira de ações da Neo: onde investir na bolsa brasileira
Diante desse cenário, a estratégia da Neo Investimentos é focar em empresas resilientes, com teses sólidas e que tenham capacidade de gerar valor no longo prazo, mesmo em tempos difíceis.
As quatro maiores posições do portfólio são:
- Cury (CURY3): Empresa de construção ligada ao segmento de baixa renda (Minha Casa, Minha Vida), beneficiada por demanda crônica e constante por habitação e pelo crédito subsidiado mais estável;
- Equatorial (EQTL3): Companhia do setor de utilities, mais defensiva por fundamento, com disciplina e boa alocação de capital;
- Porto Seguro (PSSA3): Seguradora que se beneficia de juros altos e com grande potencial de geração de valor devido ao desenvolvimento de novas linhas de negócios;
- Vivo (VIVT3): Empresa com fluxo de caixa constante e crescente, com posição estratégica no setor de telecomunicações, oferecendo mais segurança para a carteira.
Embora a maioria das empresas na carteira da Neo esteja mais ligada ao doméstico, o gestor também revelou exposição a empresas com atuação global, como a WEG (WEGE3) e a Prio (PRIO3).
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