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Apesar do crescimento do debate sobre sustentabilidade, mudanças climáticas e governança nas esferas pública e regulatória, os gestores de fundos multimercados no Brasil seguem céticos em relação ao impacto da pauta ESG (ambiental, social e governança) nas decisões de investimento e nos fluxos de capital — ao menos no curto e médio prazo.
É o que revela a mais recente pesquisa mensal da equipe da série Os Melhores Fundos de Investimento, da Empiricus, feita com cerca de 30 gestoras que, juntas, somam mais de R$ 160 bilhões sob gestão.
A maioria das respostas divulgadas na pesquisa aponta que o tema ESG ainda não muda o jogo para os gestores multimercados, ou seja, ainda não tem força suficiente para mexer no comportamento do mercado financeiro de forma estrutural.
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A leitura predominante entre os gestores é de que a influência da agenda ESG permanece mais no discurso do que na prática dos investimentos. Para 63% dos entrevistados, as políticas climáticas globais terão impacto moderado nos mercados financeiros nos próximos 2 anos — restrito a setores específicos. Os outros 38% acreditam que esse impacto será nulo.
Nem mesmo o “aquecimento” do tema por causa da realização da COP30 em Belém em novembro deste ano — a principal conferência do clima sobre mudanças climáticas e investimentos sustentáveis — parece ter efeito sobre o business as usual das gestoras nacionais.
Quando perguntados sobre a expectativa sobre o impacto da COP30 na percepção de risco-retorno do Brasil como destino de investimentos, metade dos gestores afirma que o efeito será marginal, mais simbólico do que prático. A outra metade não enxerga qualquer efeito.
Esse distanciamento entre a narrativa e a realidade do mercado já vinha sendo observado em outras frentes — o chamado greenwashing é um exemplo nada novo —, mas agora aparece com mais clareza: os fundos seguem priorizando fundamentos econômicos tradicionais, como juros, inflação, política monetária e dinâmica fiscal, na hora de montar suas posições.
Energia renovável aparece como oportunidade
Ainda assim, o levantamento revela que alguns nichos da economia já colhem frutos da agenda climática.
Quando questionados sobre quais setores devem se beneficiar da pauta ESG no médio prazo, 57% dos gestores apontaram o setor de energia renovável como o mais promissor. Bem atrás, surgem a infraestrutura verde (transporte, saneamento, etc) com 17% e o agronegócio sustentável com 13%.
Esse dado mostra que, mesmo entre os mais céticos, existe espaço para identificar oportunidades de investimentos dentro de uma transição energética e ambiental mais ampla. A diferença está na forma como cada gestor enxerga o timing e a materialidade dessas oportunidades no portfólio.
Um exemplo disso é a visão dos gestores sobre o influxo de capital estrangeiro na transição verde. Ao serem questionados se a percepção dos investidores internacionais sobre o Brasil melhoraria caso o país assumisse maior protagonismo na transição verde, 75% dos gestores afirmaram que haveria uma melhora marginal. Para 21%, haveria impacto relevante na atratividade dos ativos brasileiros.
Além disso, 42% dos gestores entrevistados acreditam que temas como descarbonização e financiamento climático devem influenciar de forma limitada o debate fiscal e de investimento público no Brasil nos próximos anos — mesmo percentual daqueles que não enxergam qualquer impacto.
Contudo, 17% deles afirmam que estes temas serão ou vetores complementares na agenda fiscal ou mesmo farão parte central da estratégia de crescimento e atração de recursos.
O que isso significa para o investidor pessoa física?
Para quem investe por conta própria ou acompanha fundos de investimento, o recado é claro: embora o ESG continue sendo uma pauta importante no longo prazo, não espere que ele seja o principal motor de performance dos fundos no curto prazo — ao menos não nos multimercados.
Por outro lado, setores como energia limpa continuam no radar e podem representar bons pontos de entrada para quem busca investir com propósito, desde que com olhar estratégico e fundamentado.
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