A era do “dinheiro livre” e dos juros próximos a zero, que por mais de uma década moldaram o mercado de investimentos, já ficou para trás. O que estamos vivendo agora é um “novo normal” — com taxas elevadas em todo o mundo. E, neste cenário, os investidores precisam calibrar portfólios de ações e, essencialmente, voltar aos fundamentos das empresas.
Foi essa a principal recomendação de Sean Carroll, gestor de portfólio na Janus Henderson Investors, e de André Reis, analista de equity research, durante a Global Managers Conference, evento promovido pela BTG Pactual Asset Management.
Para os especialistas, a realidade de taxas de juros positivas não é uma anomalia. Ao contrário, ela representa o retorno à normalidade histórica que prevaleceu por 50 anos antes da crise financeira de 2008.
“Agora, nós não temos mais dinheiro livre”, destacou André Reis. Para ele, a análise profunda dos fundamentos das empresas volta a ser crucial. Modismos como as “SPACs”, que floresceram na era dos juros zero, já não fazem mais sentido.
Com as taxas de juros elevadas, o que se vê no mercado de ações é um impacto direto no valor presente dos fluxos de caixa. Esse aumento nas taxas de desconto resulta em uma redução do duration dos investimentos. Ou seja, os investidores agora precisam focar em “gerar lucros, não incorrer em perdas”.
Diversificando investimentos além do excepcionalismo americano
Os gestores também projetam que, em 2025, os mercados globais de ações, especialmente fora dos Estados Unidos, terão um desempenho “melhor do que o esperado”.
GLOBAL MANAGERS CONFERENCE
Desde o começo deste ano, uma tendência de diversificação global tem se intensificado, com investimentos migrando dos Estados Unidos para regiões como Europa e Brasil, além de mercados emergentes.
Segundo André Reis, o excepcionalismo americano atingiu seu auge, tornando mercados fora dos EUA muito mais atraentes.
Na China, por exemplo, empresas como Alibaba, Tencent, BYD e JD.com (as chamadas 10 Terríveis) já apresentam valuations bem mais atraentes quando comparadas às Magnificent Seven (Sete Magníficas) americanas.
A expectativa é que, após uma década de desempenho inferior aos EUA, o cenário para mercados emergentes finalmente comece a mudar.
Com os juros elevados e as transformações acontecendo no mercado, a gestão ativa se mostra como a principal estratégia recomendada pelos especialistas para investir em ações.
A dica é procurar ações de empresas com baixa alavancagem e com capacidade de gerar fluxo de caixa independentemente do ambiente econômico.
Carroll ainda destaca que a gestão ativa pode agregar valor ao identificar empresas resilientes, bem posicionadas e com diversificação geográfica e setorial.
Entre os setores que se destacam, as ações de saúde e biotecnologia está no radar. Tradicionalmente defensivo, esse segmento se tornou mais atraente tanto pelo valuation quanto pelo nível de inovação, como explica Carroll.
“Os investidores estão procurando setores que podem ter uma boa performance, independentemente do ambiente. E, nesse contexto, a inovação tem sido um fator chave. Essas empresas têm mostrado a capacidade de crescer, independentemente do que ocorre no mercado mais amplo”, disse.
O setor de saúde e biotecnologia, que já era visto como defensivo, tem se tornado ainda mais atraente graças aos avanços tecnológicos.
Um exemplo disso é o progresso significativo no desenvolvimento de novos medicamentos e terapias para o tratamento de obesidade e câncer. Com as aprovações recentes, o setor farmacêutico ganha um caráter um pouco menos cíclico, oferecendo um equilíbrio entre ser defensivo e gerar retornos financeiros.
Além disso, a inteligência artificial (IA) se tornou uma das maiores aliadas desse segmento. Historicamente, o desenvolvimento de novos medicamentos leva de sete a 10 anos. Mas a IA tem o potencial de acelerar imensamente esse processo. Ela também tem ajudado a identificar diagnósticos com maior precisão, trazendo benefícios substanciais para o setor.
Outro segmento que tem se destacado aos olhos dos economistas é o financeiro. Com o ambiente de juros positivos, os bancos surgem como um modelo de negócio extremamente atraente, de acordo com André Reis.
Com a valorização das taxas de juros, os bancos se tornam mais lucrativos, com margens mais elevadas, e, como resultado, são vistos como uma das principais apostas para 2025.
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