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“Se fizer o dever de casa e sinalizar um ajuste fiscal, imediatamente a economia melhora”, diz Mansueto Almeida

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Para Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual e ex-secretário do Tesouro Nacional, para conter juros e inflação no Brasil há apenas uma solução: segurar o salário mínimo para controlar os gastos do governo federal. 

Em painel sobre macroeconomia no AgroForum Cuiabá, evento do BTG Pactual, Almeida esteve junto com André Esteves, chairman e sênior partner do BTG Pactual, no debate sobre os rumos do país. 

Segundo o economista, não há muito o que pensar: a solução é mudar as regras do crescimento da despesa obrigatória do governo, e isso inclui necessariamente mudar a política de valorização do salário mínimo no próximo ciclo presidencial, que terá início em 2027. 

“Fazendo isso, imediatamente desacelera o crescimento do gasto, imediatamente a inflação cai, a expectativa de inflação cai, e você abre espaço para uma queda dos juros muito rápida”, disse Almeida. 

Salário mínimo sem reajuste 

O economista acredita que o controle da despesa é o único caminho porque a carga tributária do Brasil já é muito alta: 33% do Produto Interno Bruto (PIB) versus 22% do PIB nos pares da América Latina, em média. 

Com isso, o controle dos gastos públicos se mostra o melhor caminho, com uma possibilidade que seria como “cortar o mal pela raiz”, que é o congelamento do salário mínimo

Almeida não acredita ser necessário o governo ter uma política de valorização do salário mínimo, porque o resultado dos reajustes se dá mais no aumento do gasto público por meio da Previdência do que em melhorias sociais. 

Como o reajuste do salário mínimo reajusta a aposentadoria, toda vez que o governo corrige o piso pela inflação, o gasto com Previdência aumenta e prejudica as contas públicas. 

“Num país que está com pleno emprego, como o Brasil, o próprio mercado de trabalho puxa para cima o salário de contratação de trabalhadores, enquanto o reajuste pelo governo dificulta o ajuste fiscal”, disse o economista no AgroForum. 

Para ele, a melhor forma de ajudar a população mais vulnerável é por meio de programas sociais mais focados. 

“Se um aposentado tem problema de recursos para comprar remédio, você cria um programa que já existe no Brasil, que é o Farmácia Popular. Tem vários programas mais focalizados, com custo muito menor e que podem favorecer os aposentados do que simplesmente dar aumentos sucessivos para o salário mínimo”, afirma. 

Ajuste fiscal 

Almeida não acredita que seja o caso de reformular todas as políticas do governo de uma única vez. Para ele, uma sinalização consistente de que a intenção é essa já diminuiria a pressão do mercado financeiro sobre as expectativas de juros e inflação. 

“Se a gente conseguisse enxergar no debate político que quem quer que fosse o governante a partir de 2027 teria um esforço de controlar o crescimento do gasto, imediatamente esse juro real tão alto cairia”, disse o economista. 

No painel, Almeida afirmou que hoje o Brasil é mais resiliente, apresenta um crescimento consistente, desemprego baixo e tem condições de continuar evoluindo depois das reformas estruturais dos últimos anos. 

O ajuste fiscal é o dever de casa que ficou para trás. 

“Se a gente fizer o dever de casa e sinalizar –- não é fazer um ajuste fiscal em 1, 2 anos, é sinalizar — que conseguiremos fazer um ajuste fiscal, mesmo que num período mais longo de 4, 5, 6 anos, imediatamente a economia melhora”, diz Almeida. 

Lula não entendeu o apelo 

Na opinião de Almeida, o ajuste fiscal não é apenas uma demanda da “Faria Lima”, mas um apelo que atualmente também vem da sociedade. 

Segundo o economista, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem seguido a cartilha da boa popularidade: crescimento da economia, pleno emprego e gastos públicos. Porém, não tem surtido efeito. 

Almeida afirma que essa foi a regra que tornou Lula popular no passado, mas que a sociedade evoluiu e hoje tem outras preocupações. 

“Hoje, o brasileiro conseguiu o emprego e está preocupado com outras coisas. A própria população está demandando um ajuste fiscal. Era para o governo estar com a popularidade lá em cima, mas não está. Isso mostra para mim que o Brasil mudou.”

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