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Setor aéreo em alerta: o que levou Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) à recuperação judicial?

Copia de THUMBS Touros e Ursos 10

Nos últimos anos, a Varig faliu, a Vasp faliu, a TransBrasil faliu, e as companhias aéreas que não faliram, estão em dificuldades — caso da Gol (GOLL4), que tenta se reerguer de uma recuperação judicial, e da Azul (AZUL4). Afinal, o que acontece com as companhias aéreas brasileiras? 

O podcast Touros e Ursos, do Seu Dinheiro, convidou Enrico Cozzolino, analista de renda variável da Levante, para responder a esta e outras perguntas sobre os problemas da aviação comercial no Brasil. 

Dificuldades da aviação brasileira

Segundo Cozzolino, a maior dificuldade das companhias aéreas é o alto custo de operação. 

Dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostram que 40% da receita das empresas cobre apenas o custo do querosene de avião. 

Com os 60% restantes, as companhias precisam pagar o arrendamento de aeronaves, a manutenção, a limpeza, os gastos com funcionários, os impostos, entre outros custos não recorrentes. 

“O que sobra são 2%, 3% de receita que pode diminuir ano a ano, prejuízo após prejuízo. Mesmo em um trimestre muito bom, que resulte em lucro líquido, um período bom não é suficiente para tirar essas empresas de uma situação difícil de anos”, disse o analista. 

Existem detalhes desses custos operacionais que tornam ainda mais difícil fechar as contas para empresas como Gol e Azul. 

O preço do querosene de aviação depende diretamente da cotação do petróleo no mercado internacional e do valor do dólar em relação ao real — mesma coisa que acontece com o preço da gasolina, por exemplo. 

Em 2025, o preço do petróleo é menor do que o de anos anteriores: na faixa de US$ 65 ante US$ 80 em 2024 e US$ 90 em 2023. O mesmo se aplica ao dólar em relação ao real, que caiu de R$ 6,20 ao fim de 2024 para os atuais R$ 5,70. 

Para Cozzolino, o arrefecimento no preço dessas duas variáveis é positivo para as companhias aéreas brasileiras neste momento, mas não deve ser avaliado de forma isolada e como se fosse uma salvação para as receitas de Gol e Azul

“É um copo meio cheio. Mas essas empresas precisam de tempo para sentir esses efeitos positivos. Em paralelo a esses custos têm o arrendamento que está vencendo, o salário que está vencendo, as manutenções que precisam ser feitas. É por isso que eventualmente as aéreas quebram”, disse o analista no Touros e Ursos. 

O pedido de recuperação judicial que a Gol está encerrando neste ano e que a Azul acabou de solicitar nos Estados Unidos é para ganhar tempo e sobreviver, na opinião de Cozzolino. 

Veja o episódio completo do Touros e Ursos desta semana: 

Fusão Gol e Azul 

A fusão entre Gol e Azul é uma das soluções ventiladas há anos pelo mercado para melhorar a situação financeira das duas empresas. 

Cozzolino é favorável à ideia e vê chances de uma melhoria operacional, além da financeira. 

“A fusão me parece uma boa ideia. Você tem sobreposição de rotas que possibilita enxugar a equipe, aumenta a base de clientes, pode conseguir barganhar valores com os lessores que arrendam as aeronaves, melhorar prazos de dívidas. Então, sim, é bastante positivo e não penso em outra alternativa”, disse o analista. 

Entretanto, com a Gol saindo de uma recuperação judicial e a Azul entrando em uma, Cozzolino acha mais difícil que isso aconteça no curto prazo, embora não descarte a possibilidade no futuro. 

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O analista afirma no podcast que a gestão de ambas as empresas estão avaliando as condições do mercado e tentando buscar outras alternativas que não afetem tanto o acionista. Afinal, uma fusão levaria a diluição de posições. 

Agora, a Gol deve cumprir alguns critérios para finalizar a sua RJ e equilibrar as contas nos próximos meses. Em paralelo, a Azul começa o seu processo, que só deve ser concluído em 2026. 

Neste meio tempo, Cozzolino acredita que a proposta continuará na mesa como uma das saídas mais claras e efetivas para o Brasil não perder competitividade em relação às companhias estrangeiras. 

Vale a pena investir em companhias aéreas? 

E as ações AZUL4 e GOLL4 no meio disso tudo? Neste momento, o analista da Levante considera ambos os papéis como posições táticas dentro da carteira. 

“É como uma pimenta dentro de um portfólio bastante diversificado. Um percentual pequeno do que é destinado a renda variável”, disse. 

Cozzolino alerta para a ideia de considerar o investimento nas ações de Gol e Azul porque os papéis estão valendo centavos e qualquer valorização de 10% já representa um ganho. Para ele, essa é uma visão oportunista que pode resultar em perdas consideráveis. 

“O preço da tela considera todas as dificuldades que sinalizamos até aqui. Esse tipo de atitude é coisa de quem se acha muito esperto, que está vendo algo que o mercado não está. É um erro”, afirmou. 

O negócio das duas companhias aéreas deve continuar apresentando assimetrias e dificuldades no curto e médio prazo. Alguns desafios destacados no podcast foram impactos atrasados da pandemia, novos concorrentes, perda de renda do brasileiro, diminuição dos voos comerciais, altos custos de arrendamento — além das variáveis petróleo e dólar. 

“Existem riscos e é importante entender esses riscos. Não adianta você que comprou a Azul valendo R$ 10 querer fazer um preço médio de R$ 1 agora vislumbrando ganhos com a recuperação judicial. A ação está volátil e vai continuar volátil. A volatilidade é uma medida de risco que indica uma dificuldade de precificação”, afirmou o analista. 

Quer saber mais sobre Gol e Azul? Ouça o episódio completo do Touros e Ursos desta semana: 

No quadro Touros e Ursos, convidado e apresentadores falaram sobre o aumento das tarifas para o alumínio e aço por Donald Trump, a revisão da nota de crédito do Brasil pelas agências internacionais, o catálogo da Taylor Swift e a conquista do Paris Saint-Germain na Champions League.

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